Álvaro Cunhal: A Vida de um Resistente

 

   
Título Original: Álvaro Cunhal: A Vida de um Resistente
Realização: Joaquim Vieira
Produção: Nanook / SIC
Ano: 2005
Género: Documentário
Duração: 2x ±60 minutos
Origem: TVrip
Legendas: PT-PT
   
Sinopse:
Documentário biográfico sobre Álvaro Barreirinhas Cunhal (1913-2005), que liderou o Partido Comunista Português ao longo de mais de meio século.

Atuando na clandestinidade durante a ditadura do 'Estado Novo', e apesar de ter sido preso três vezes (a última das quais durante 11 anos, oito deles em total isolamento) e de se conservar 13 anos no exílio, Cunhal conseguiu manter o seu partido estruturado de modo a resistir a sucessivas investidas policiais e a emergir em 25 de Abril de 1974 como uma força política que projetou enorme peso e influência sobre a sociedade portuguesa até aos dias de hoje.
O secretário-geral do PCP destacou-se além-fronteiras durante o período revolucionário português de 1974/75. Foi considerado um teórico influente do movimento comunista internacional, antes da queda do Muro de Berlim e da desagregação do bloco soviético (1989-91). O seu percurso político atravessa outros importantes acontecimentos mundiais do século XX, como a Guerra Civil de Espanha (1936-39), as purgas estalinistas de Moscovo nos anos 30, a II Guerra Mundial (1939-45), a Guerra Fria, a cisão sino-soviética (1963) ou a invasão da Checoslováquia (1968).

 

 

 Ep01 - Que Fazer?
Retrata a vida de Álvaro Cunhal desde o seu nascimento em 1913 até 1961, ano em que é eleito secretário-geral do PCP e, por razões de segurança, se exila em Moscovo.
Nascido em Coimbra, Álvaro Barreirinhas Cunhal era filho de um licenciado em Direito, escritor, pintor, laico e republicano, e de uma conservadora e católica fervorosa. A sua infância e juventude são amplamente abordadas neste documentário e complementadas com os testemunhos de familiares e amigos que com ele privaram. Entra para a Faculdade de Direito de Lisboa em 1931, e em 1934 adere ao PCP. O documentário percorre os longos anos de profunda clandestinidade e combate à ditadura salazarista, assim como mais de uma década passada nas prisões, relatando os episódio mais relevantes de uma vida de resistente, como a primeira viagem de Cunhal a Moscovo em 1935, onde recebe forte influência estalinista; as suas várias detenções; a sua ligação à Guerra Civil de Espanha (1936) e os futuros encontros clandestinos com elementos do Partido Comunista Espanhol; o cumprimento do serviço militar em Penamacor; a sua relação com outros camaradas da clandestinidade, como Pavel, Fogaça e Bento Gonçalves; as suas posições perante o pacto germano-soviético e a II Guerra Mundial; as suas ligações aos jornais O Diabo, Sol Nascente e Avante!; a reorganização do PCP no início dos anos 40; a direção dos movimentos grevistas no tempo da guerra; a política do pós-guerra; e a sua prisão em 1949, durante 11 anos consecutivos, até à fuga a 3 de Janeiro de 1960, juntamente com mais nove dirigentes do PCP, minuciosamente narrada por diversos intervenientes. Em 1961, já no exílio, Cunhal adquire o estatuto de herói, tanto em Moscovo como nos meios oposicionistas portugueses.

 

 

 Ep02 - O Estado e a Revolução
Recomeça onde terminou a anterior. A retificação política do PCP empreendida por Cunhal, a desestalinização em Moscovo, o conflito sino-soviético e a invasão da Checoslováquia (1968) são os temas que marcam a abertura desta parte do documentário. Em 1963, os comunistas chineses afastam-se da liderança soviética. A Frente de Ação Popular é então criada por dissidentes do PCP, mas Cunhal continua alinhado com o Partido Soviético e aproxima-se da liderança de Leonid Brejnev. Ele era um dos dirigentes comunistas estrangeiros mais respeitados e apreciados em Moscovo, onde sobe à tribuna de honra em todos os momentos solenes. À dimensão portuguesa, Cunhal chegou a ser objeto de algum culto de personalidade. Ainda enquanto prisioneiro nos anos 50, os escritores Jorge Amado e Pablo Neruda escreveram textos glorificando o dirigente comunista português, amplamente difundidos pelo PCP. A Ação Revolucionária Armada, estrutura bombista do PCP, inicia a sua vaga de atentados em Outubro de 1970, sob a caução de Cunhal. Vive-se já no período em que Marcelo Caetano (curiosamente, antigo membro do júri que em 1940 aprovara a tese de licenciatura do líder comunista em Direito) tomou o lugar de Salazar. Em Março de 1974, Cunhal encontra-se em Paris com Mário Soares (de quem fora professor e que influenciaria politicamente, contribuindo para a sua filiação no PCP), agora líder do recém formado Partido Socialista, para discutir ações comuns contra o governo de Caetano. Um mês depois, dá-se o golpe do 25 de Abril e os militares revolucionários tomam conta do país, de alguma forma confirmando as anteriores teses de Cunhal sobre a forma de pôr fim à ditadura. Cunhal desembarca no aeroporto da Portela a 30 de Abril, após mais de uma década de exílio, emergindo das sombras como o mais mítico dos resistentes contra a ditadura. Os primeiros quatro governos provisórios, nos quais Cunhal foi ministro sem pasta, o «Verão Quente» de 1975 e o 25 de Novembro desse ano são, naturalmente, tratados no documentário. Nessa altura, a figura de Cunhal torna-se conhecida no estrangeiro, onde simboliza a radicalização revolucionária de Portugal. Mas no 25 de Novembro tem um papel preponderante na contenção das forças militares e civis afetas ao PCP, dando um contributo talvez decisivo para se evitar a eclosão da guerra civil e um enorme derramamento de sangue. As históricas eleições presidenciais de 1986, a “perestroika”, a queda do Muro de Berlim (ao mesmo tempo que caem os velhos dogmas do marxismo-leninismo) e o distanciamento de Cunhal perante as reformas promovidas por Gorbatchov na União Soviética têm igualmente o seu enquadramento nesta obra. Estávamos num período de intransigência do PCP, o que, em consequência, estimulava a crítica de alguns militantes que viriam a ser expulsos do partido, como Vital Moreira, Zita Seabra, José Luís Judas, José Magalhães, etc. A dissidência transformava-se em prática ritual do Partido e, em simultâneo, assistia-se ao fim da União Soviética, a que Cunhal poucos anos antes atribuíra o estatuto de «Sol na Terra». Em 1992, Cunhal abandona o cargo de secretário-geral, sendo substituído por Carlos Carvalhas. A retirada da vida política ativa revela, ao mesmo tempo, a sua faceta literária e artística, que ao longo da vida foi cultivando como pôde, e em 1994, no lançamento da sua novela Estrela de Seis Pontas, assume publicamente que Manuel Tiago é o seu pseudónimo literário. Morre a 13 de Junho de 2005, e o seu cortejo fúnebre transforma-se numa verdadeira e sentida homenagem do povo português ao homem que, muitas vezes, foi apelidado de “o último comunista”.

 

 

 

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